sexta-feira, 15 de junho de 2012

A ATITUDE MENTAL

Texto de SWAMI TILAK.
É GRANDE A ALEGRIA que sinto ao falar neste lugar!
Como vocês já sabem, eu sou da Índia, país que está muito longe daqui, tem uma cultura muito diferente da cultura de vocês e um modo de vida igualmente diferente; e às vezes o pensamento também parece diferir um pouco.
Sem dúvida, algumas coisas são iguais para todos porque em qualquer parte do mundo o homem é homem. Pode falar este ou aquele idioma, mas no seu íntimo o homem pro­cura o mesmo. Que procura? A felicidade.
O homem não faz nada no mundo sem ter em vista a felicidade. Mas, no mundo, muito poucas pessoas sentem a felicidade em suas vidas. Em geral a pessoa se sente feliz em um dado momento e no momento seguinte se sente um miserável. Então existe a felicidade e também a miséria.
Há duas tendências de pensamento no mundo.
Pode-se pensar que a felicidade existe nas coisas físicas, sensórias, coisas que estão no mundo e, segundo outro ponto de vista, a felicidade não existe nas coisas exteriores: está no próprio homem.
Todos já experimentamos um pouco de sa­tisfação que qualquer coisa possa nos dar em certo mo­mento e em outro momento já não nos dá a mesma sa­tisfação. Por exemplo, um dia nós sentimos que o pão pode nos satisfazer, mas no dia seguinte não nos satisfaz. Então sempre tratamos de mudar as coisas que nós usamos.
Um dia estamos contentes com uma pessoa e no outro não estamos contentes com esta mesma pessoa. Aquele que é nosso amigo hoje pode ser um inimigo ama­nhã. Então temos que buscar a fonte da Verdadeira feli­cidade.

Os Três Drogados

Dizem que havia três drogados sentados às margens de um rio. Era uma noite fria. Tinham cigarro mas não tinham fogo. Queriam acender o cigarro mas não sabiam como fazê-lo. Nesse momento viram algo refletindo na água do rio. Pensaram que era fogo. Os três tiveram que entrar na água para tirar o fogo.
O primeiro entrou na água até o joelho e sentiu frio. Não podendo mais entrar na água regressou e disse aos outros:
- Amigos meus, não existe ne­nhum fogo.
Os outros disseram:
- Você é um covarde, não pôde entrar na água e por isto não pôde conseguir o fogo.
Então o segundo drogado entrou e quando a água chegava à cintura, sentiu frio e teve de voltar também e disse:
- Amigo meu, na realidade não existe o fogo.
O terceiro disse:
- Existe, eu estou vendo-o, eu vou buscá-lo.
E saltou na água. Agora estava nadando de um lado para outro e não podia encontrar nenhum fogo e teve que regressar. Depois os três sentaram juntos e disseram:
- Não cabe dú­vida que existe o fogo na água, mas perdeu seu calor.
Se­gundo a opinião deles o fogo perdera o calor.

Em Busca da Felicidade

As pessoas procuram a alegria e a felicidade no mundo. Mas quando não conseguem a felicidade no mundo, dizem:
- Hoje não, amanhã vamos conseguir.
Ou então
- Esta pes­soa não pôde consegui-la; outra vai conseguir.
Por isto te­mos que pensar apropriadamente. O que é a alegria, que é a felicidade? A felicidade existe ou não existe nas coisas exte­riores? Temos que pensar apropriadamente.
Se a mesma coisa não nos dá igual alegria em todo tempo, qual é a causa? Te­mos que pensar nesta verdade. Então pensemos: nossa fe­licidade depende ou não depende da nossa atitude? Não cabe dúvida que nossa felicidade está diretamente rela­cionada com nossa atitude.
Numa conferência, eu disse aos estudantes, por exem­plo, que nossa casa está cheia de mosquitos que nos picam e que sentimos uma grande inquietação. Mas quando dor­mimos, os mosquitos também picam nosso corpo e não obstante dormimos tranquilamente; porque nesse momento, nossa consciência está desligada do corpo.
Quando uma pessoa tem controle sobre sua mente, sente felicidade em si mesmo. Por isso a fonte da felici­dade está em nós mesmos. E quando ligamos nossa mente com outras coisas, sentimos alegria com as outras coisas.

A Fome e a Alegria

Por favor, digam-me. Quando vocês estão vendo um filme na televisão e o filme é muito interessante e nesse momento a mãe chama:
- A comida está na mesa, venham!
Que respondem vocês?
- Espere mãe, agora estamos vendo o filme.
E noutra ocasião a mãe está preparando a comida e vocês estão em casa e dizem:
- Mãe, a comida está pronta ou não?
A mãe diz:
- Esperem um pouco, filhos.
- Não, mãe, estamos morrendo de fome!
[risos]
Então, agora te­mos inquietação.
Em ambas as ocasiões você têm o estômago vazio, mas o estado mental é diferente. Em uma circunstância, o es­tômago está vazio e a mente está cheia e noutra ocasião não somente o estômago está vazio, mas a mente também.

A Fome Mental

O estômago vazio não cria tantos problemas como os cria a mente vazia. É a verdade! Quando um leão tem fome mata somente um ou dois animais para comer. Mas quan­do tem a mente vazia e o estômago cheio, mata milhões de pessoas e não sabe por quê nem para quê está matando. Somente o faz para satisfazer sua fome mental e tem sa­tisfação.
Existem no mundo anarquistas que sentem um grande prazer em matar aos outros sem propósito, sentem um grande prazer em tirar a vida, mas não querem comer a carne do homem, não têm esse interesse.
Em qualquer es­tado eles têm fome interna.
Então a fome interna é ter­rível! Nenhum filósofo, nenhum administrador pode criar a felicidade ou tranquilidade no universo com o homem descontente. O homem tem que conseguir a satisfação em si mesmo. Tem que fazê-lo.
Por isto os espiritualistas dizem: homens, vocês são os criadores da sua própria felicidade. Enquanto uma pessoa não se preocupa, outra vive preocupada.

O Rei e o Santo

Dizem que uma vez um Rei perguntou ao Primeiro Mi­nistro:
- Diga-me quanto dinheiro temos em nosso Tesou­ro?
Depois de contar, o Primeiro Ministro respondeu:
- Temos dinheiro bastante para seis gerações.
Então o Rei perguntou:
- Que vai acontecer com a sétima geração?
Ficou preocupado. Pensou e pensou sobre a mesma coisa e começou a sofrer. Já estava na cama, contando os últimos momentos de sua vida. O Primeiro Ministro falou:
- Majestade, me parece que o senhor está para deixar este mundo. É bom fazer uma caridade, uma esmola.
Então o rei disse:
- Muito bem, podemos dar um quilo de arroz.
O Rei queria dar somente um quilo de arroz porque es­tava preocupado com a sétima geração. Assim, o Primeiro Ministro disse a um empregado:
- Vá a um determinado lugar na floresta, onde mora um santo, e dê a ele este quilo de arroz.
O empregado foi e, depois de algumas horas, regressou com o arroz. O Primeiro Ministro lhe perguntou:
- Por que você não deu o arroz ao Santo?
O empregado respondeu:
- Senhor, eu tentei dar o arroz ao Santo, mas ele disse: "Eu já comi hoje, não necessito".
O Primeiro Ministro insistiu:
- Você poderia ter deixado o arroz para a tarde.
- Senhor, eu quis fazer isso, mas o santo me disse que ele só come uma vez ao dia, não come duas.
Então o primeiro Ministro disse:
- Você poderia deixar este arroz para amanhã.
- Senhor, eu sugeri isto também, mas o santo disse que aquele que se preocupa com o amanhã é um louco.
Quando o Rei escutou estas palavras perguntou:
- Que foi que disse o santo?
- Senhor, o Santo disse que aquele que se preocupa com o amanhã é um louco.
- Então que tipo de louco sou eu que estou preocupado com a sétima geração?
É a vida! Não temos certeza dos próximos momentos, mas estamos preocupados com as gerações e gerações.

Preocupar –se e Pensar

Eu estava lendo hoje um artigo sobre o sol. A gente está preocupada com o sol porque no futuro vai perder seu calor. Eu digo, amigo meu, não sabemos nada sobre o momento seguinte e estamos preocupados, preocupados e preocupados. Não sei em que esta preocupação possa nos servir. Não cabe dúvida que devemos, relativamente, pensar no futuro, mas tanta preocupação com o futuro que afete nossa alegria no presente é um grande problema!
Os santos e os grandes pensadores sempre vivem no presente. Pensar é uma coisa e preocupar-se é outra muito diferente. Infelizmente a gente não sabe a diferença entre a preocupação e o pensamento. Quando uma pessoa não sabe diferenciar entre preocupação e pensamento, tem que sofrer terrivelmente.
Por isto nós temos que pensar apropriadamente. Te­mos que dividir as coisas em duas partes: uma coisa tem menos alegria e a outra nos dá mais alegria.
A que nos dá mais alegria tem de se aceitar; a coisa que tem menos alegria deve ser rejeitada. Às vezes não sabemos distinguir a diferença entre as coisas agradáveis e as saudáveis. Existe diferença porque as coisas que nos parecem agradáveis nem sempre são saudáveis, e as coisas saudáveis nem sempre são agradáveis.
Quando comemos doce nos parece uma coisa muito agradável; mas depois temos problemas com nossos dentes. Que temos de fazer? Satisfazer nossos gos­tos ou cuidar de nossos dentes? Quem não tem inteligên­cia trata de satisfazer seus gostos e os inteligentes tratam de cuidar dos seus dentes.
Que é mais importante? Deve­mos ver isto. Quando temos a comida deliciosa, comemos e comemos bastante, mas depois de comer, na manhã se­guinte, temos dor de barriga.

Disciplina Gostosa

Temos que disciplinar nosso gosto; e aquele que não disciplina seu gosto, tem que sofrer. Por isto temos que seguir nossa inteligência. Os sentidos dizem que comamos esta comida e a inteligência diz que comamos outro tipo de comida.
Nossos sentidos nos dizem que durmamos dez horas, mas a inteligência diz que devemos estudar cada vez mais e mais. Nesse momento que temos que fazer? Temos que aceitar as sugestões da inteligência. Temos que ven­cer nossos sentidos.
Mas quando um santo nos diz que temos de vencer nossos sentidos, não aceitamos. Queremos somente satisfazer nossos sentidos. Na vida atual, diária, bem sabemos que quando temos de alcançar um objetivo ou um fim alto, temos que deixar as coisas que não têm tanta importância em nossa vida.
Então temos que apren­der essa lei na nossa vida: que em princípio as coisas de mais importância devem ser aceitas e as de menos im­portância devem ser abandonadas. Depois, temos que bus­car as coisas saudáveis. Ninguém pode nos dizer que de­vemos tomar sempre coisas amargas. Isso não podemos dizer. Mas quando nossa saúde necessita das coisas amargas, temos de tomá-las, e também tirar as coisas doces, porque nem tudo que é doce, que é agradável, é saudável. É um princípio.

Pensando em Energia

Depois nós temos sempre que "pensar" no futuro. Não temos que nos "preocupar" com o futuro, mas temos que "formar" o futuro.
Como formamos nosso futuro? Toman­do os ensinamentos do passado. Porque no presente se juntam o passado e o futuro.
Por exemplo, você tem uma conta no Banco e quer dar um cheque. Como deve proceder? Conferir o saldo. Aquele que não faz isso tem problema. Sempre devemos depositar no Banco mais do que gasta­mos. Assim na vida.
Temos a energia, e esta energia não temos de gastar além do que obtemos. O problema conosco é que gastamos mais energia do que adquirimos. Por isto temos problemas.

A Fonte da Alegria

Para manter o equilíbrio nós necessitamos de disciplina. A disciplina é a raiz, a fonte da alegria. Quando não se aceita a disciplina na vida, se tem problemas.
Por exemplo, a água sempre flui para baixo. Esta lei é universal. Mas o homem trata de buscar a lei alta também. Por exemplo, quando se instala uma caixa d'água no lugar mais alto de uma casa, canalizando a água pelas tubulações conve­nientes, podemos usá-la em nossa casa e, quando não a usamos, neste momento a água atinge seu nível original. Vocês, que estudam física, sabem que a água sempre busca seu nível original.
Assim, a energia que o homem não usa para viver no mundo deve ser canalizada e usada para buscar o nível ori­ginal de sua Existência. O homem sai do Universal e tem que voltar ao Ser Universal, porque a alegria, a felicidade perfeita existe no Ser Universal.

Alegria  na Beleza

Não há dúvida. Sempre conseguiremos alegria e fe­licidade só na proporção em que nós a pomos numa coisa porque nenhuma coisa tem a alegria absoluta.
Não tem.
Por exemplo, uma pessoa pode dizer que esta menina é muito feia e outro pode dizer que ela é muito bonita.
Ou então, ponha uma mulher muito bonita na frente de um leão. O leão não vai considerar a beleza da mulher porque ele somente tem interesse na carne dela. Ainda que a mulher exista também como mulher na frente do leão, não existe a mente que busca ou consegue ver a beleza nesta mulher.
Assim sendo, a beleza verdadeira não está no fato de ser mulher, existe na mente humana.
Por isso é que uma pessoa é bela para uns e feia para outros; por­que a beleza não é nenhuma coisa absoluta. Não é. A beleza existe na atitude do homem.
E sem dúvida, para aquele que pode dirigir sua mente apropriadamente, a be­leza existe em qualquer coisa, porque quando nossa atitude é ampliada, então existe a beleza em qualquer parte.

Alegria no Sabor

Com o paladar ou gosto verifica-se também o mesmo.
Por exemplo, quando um vegetariano come carne, o sabor não lhe agrada, mas para um carnívoro a carne é muito agradável. Para o vegetariano as verduras são muito agra­dáveis, mas para o carnívoro, muito desagradáveis.
Certa vez um grande santo estava à morte, e disse a seu filho:
- Filho meu, tenho que morrer agora, mas eu sei que na vida seguinte vou nascer como um porco, e quando eu entrar em seu campo, de imediato mate-me.
Muito bem. Mas quando ele nasceu como porco e entrou no campo de seu filho, este, muito obediente, imediatamente tratou de matar o porco. Quando estava a ponto de matá-lo, o porco gritou:
- Não me mate!
O filho muito surpreso, falou:
- Você mesmo não me disse que deveria matá-lo? E agora diz para não fazer isso!
O porco disse:
- Filho meu, antes de fazer-me um porco eu não conhecia os prazeres de um porco.
[risos]
O porco também tem prazeres. Mas os prazeres do porco não podem ser os prazeres do homem e os prazeres do homem não podem ser os prazeres do porco; porque o nível de pensamento é diferente.

Prazeres Mentais

É neste sentido que os prazeres, as alegrias existem em verdade na nossa mente. Temos que controlar nossa mente apropriadamente para conseguir a felicidade verdadeira.
Nossa mente, nossos sentidos, nosso ego, todos são como aparelhos elétricos.
Através de cada aparelho elé­trico a eletricidade se manifesta. Na forma de um gravador a eletricidade se manifesta como som; na lâmpada se manifesta como luz e assim cada aparelho trata de manifestar a eletricidade segundo sua natureza. Mas não temos ne­nhum aparelho que possa manifestar todos os aspectos da eletricidade. Isso não é possível.
Assim também nossos sen­tidos manifestam a alegria interna mas não temos nenhum sentido que possa manifestar toda a alegria completa. Não é possível. Podemos manifestar a alegria perfeita somente quando nossa mente não estiver ligada ou conectada a nenhum sentido.
Neste momento o Ser permanece como o Ser. Neste momento não se manifesta na forma limitada, na forma relativa. É a verdade!

Meditação

Amigos meus, temos que fazê-lo. Por isso necessitamos da meditação. Na meditação profunda nós tratamos de des­ligar nossa mente completamente de qualquer parte do mundo, de qualquer sentido, nesse momento temos somente a identificação com nosso Ser.
Por exemplo, temos um pris­ma A B C. De um lado as cores maravilhosas: amarelo, rosa, verde. Mas como é possível estas cores? Temos estas cores porque existe a luz solar.
Sem ter a luz solar não podemos ter nenhuma cor, nenhum espectro.
Mas a luz solar não é nenhuma cor, transcende todas as cores. Sem dúvida então que uma cor ou outra qualquer é simples­mente uma coisa limitada. E ter a luz solar significa ter a fonte de todas as cores.
Nossos prazeres são como as cores.
Temos muitas ex­periências coloridas nas nossas vidas. Hoje temos satisfa­ção num lugar, amanhã noutro. Mas nenhuma satisfação, nenhum prazer é igual à luz solar. A luz solar corresponde ao Ser próprio, ao Ser interno.
Quando nós estamos com­pletamente estabelecidos no Ser, neste momento não te­mos nenhum prazer; mas temos a fonte de todos os pra­zeres! E a fonte de todos os prazeres se chama - felicidade eterna; porque esta felicidade eterna é, na realidade, a Mãe ou o Pai de todos os prazeres que nós temos na vida.

O Cachorro e os Espelhos

Dizem que havia um cachorro que entrou no templo dos espelhos. Logo que entrou, começou a ver seu reflexo em toda parte. Depois de ver estes reflexos, pensou que havia muitos cachorros. Em todas as partes só havia ca­chorros e mais cachorros. Começou a latir de um lado para outro e corria e todos os cachorros latiam. Um grande pro­blema! No fim cansou-se muito e começou a dormir. Nesse momento não havia nenhum outro cachorro latindo e cor­rendo.
É nossa vida.
O mundo é o templo de espelhos. Por todos os lados temos nossos reflexos. Assim é que esta pessoa é nossa inimiga e aquela é nossa amiga; esta pessoa me quer e aquela não me quer; esta me ama, a outra não.
E todos os complexos também existem na nossa mente.
Agora, quem diz que eu não posso amar a uma pessoa que não me ama? Quem diz? Minha mente. Porque em nenhuma Escritura está escrito que aquele que não me ama não pode ser amado por mim. Não é certo!

O Santo e o Escorpião

Dizem que havia um escorpião que estava flutuando na água de um lago. Um santo que estava sentado à margem do lago viu o escorpião e tratou de salvá-lo.
Tão logo ti­rou o escorpião da água, este ferroou o santo e saltou de novo na água. Novamente o santo tratou de salvar o es­corpião e este mais uma vez o ferroou e saltou na água.
E uma pessoa como eu, que tem muita inteligência mundana, disse:
- Senhor, para que tentar salvar a vida deste escor­pião? Ele nenhum sentimento tem de gratidão. Você trata de salvar-lhe a vida e ele trata de ferroar o senhor. Deve abandoná-lo. Se o escorpião quer morrer, que morra!.
En­tão o santo disse:
- Oh! Filho meu, você sabe que picar é da natureza do escorpião, e salvar a vida do outro é da na­tureza do homem. Mesmo uma criatura que nenhuma inte­ligência tenha, não quer abandonar sua natureza. Como posso eu, homem inteligente, deixar de cumprir minha na­tureza?"
Parece-me que esta pessoa não tem nenhum inimigo no mundo. Não tem. Somente aquele que não tem paciência, tem inimigos.

Inteligência e Controle

A pessoa que tem inteligência e tem controle sobre sua mente, não se preocupa. Esta pessoa pode, na realidade, mudar a qualquer ser no mundo. Os inimigos podem transformar-se em amigos e podem também amar a qualquer pessoa.
Dizem que uma vez o Senhor Buddha estava numa vila onde as pessoas tinham muito medo. Disseram ao Senhor Buddha que deveria sair da vila porque naquela noite um ladrão muito valente iria atacar. Disseram também que o ladrão se chamava Angulimal; e que era o rei dos ladrões.
- Você deve sair - insistiram. - O ladrão não tem nenhuma misericórdia, nenhuma compaixão e mata quem quer que seja, sem pensar.
Mas o Senhor Buddha não tinha medo algum e perguntou:
- Onde está o ladrão?
Indicaram-lhe a montanha onde estava o ladrão. O Senhor Buddha imedia­tamente começou a caminhar rumo à montanha. As pessoas insistiam dizendo que não fosse porque Angulimal não ti­nha nenhuma compaixão. Mas o Senhor Buddha não mudou sua decisão e se encaminhou na direção dele.
Quando o ladrão Angulimal viu o Senhor Buddha se aproximar da montanha, gritou:
- Quem ousa vir aqui sem saber que sou An­gulimal, capaz de matar qualquer pessoa no mundo?!
O Senhor Buddha não respondeu, continuou andando. O ladrão tornou a gritar pela segunda e terceira vez. Quando o ladrão gritou pela quarta vez, o Senhor Buddha falou:
- Para que você se preocupa tanto?
O ladrão disse.
- Pare onde está!
O Senhor Buddha respondeu:
- Estou parado, somente você está se movendo.
Angulimal disse:
- Qualquer pessoa que tenha olhos pode ver que você está se movendo e não eu, eu estou na rocha fixa.
O Senhor, com um sorriso, disse:
- Angulimal, ninguém pode ser fixado num lugar, somente por estar numa rocha fixa. A rocha não faz uma pessoa fixa. Só a mente é fixa. Você tem tantos seguidores, tem armas e apesar disso tem medo. Eu estou só, nenhuma arma tenho. Apesar disso, não tenho medo de você. Você tem medo de mim. Então, quem está movendo-se, você ou eu?
Angulimal desceu da montanha e prostrou-se aos pés do senhor Buddha dizendo:
- Senhor, hoje eu conheço a Verdade!

Vencendo a Tudo

Aquele que não tem medo, tampouco apego a qualquer coisa, inclusive ao corpo, na realidade pode vencer a qual­quer coisa ou pessoa no mundo, pode conquistar o coração de qualquer pessoa no mundo; e esta pessoa tem resultados infindáveis.
Devemos buscar a Verdade!
Nós não somos os órgãos, não somos o corpo, não somos os sentidos, não somos a mente, não somos o ego. Nós somos o Ser Eterno.
Como disse Cristo:
- O que nasce da carne é carne. E o que nasce do Espírito é Eterno.
Vocês podem quebrar o cabo elétrico mas não podem exterminar a eletricidade.
Assim o Ser, que mora em todos os corpos, é sempre indestrutível. A este Ser não se pode cortar, nem queimar, nem molhar, nem secar; é eterno, onipresente, estável, imóvel e primordial.
O Ser, o próprio Ser é o bem supremo que podemos alcançar. Isto é possível na meditação profunda. Temos que empregar nisso toda nossa determinação.